Meio segundo depois ela já tinha me largado e saiu em disparada pelo corredor até o quarto.
Fiquei imaginando o porquê daquela pressa. O que teria feito ela se soltar de mim naquele momento e ir até o quarto?. Ia segui-lá até lá mas mudei de idéia assim que passei os olhos pelo monstrinho irmão dela que agora segurava uma risada e lia uma revista qualquer.
Ele sabia porque ela estava daquele jeito. Mas não foi isso que me fez mudar de idéia. Foi a conclusão de que, se ele era daquele tamanho, provávelmente o pai deles não ficava muito atrás... Não que ele fosse fazer algo comigo, mas a idéia do pai dela ser um cara grandão me deixava meio paralisada. Fala sério, sempre é mais fácil quando eles são de tamanhos normais... Durante meus pensamentos sobre o pai dela, o irmão, uma imagem familiar me veio a memória... Cara, eu conheço o monstrinho de algum lugar...De onde?? Minha memória fotográfica funcionava muito bem, eu conseguia lembrar de rostos como ninguém, o único problema é que eu sempre esqueço DE ONDE eu já vi a pessoa...
-Hey já te vi em algum lugar...
-Olha e depois minha irmã fica falando que eu fico dando em cima das "amigas" dela...
-...definitivamente não é uma cantada...sério mesmo, eu te conheço, tenho CERTEZA.
- Ha ha. Deixa eu ver... Espera...Nooossa... você sempre morou aqui na cidade?
-aham.
-Sua mãe chama, Yuka, Yuko?
-chama.
-quando você era pequena você morava perto do shopping central, que também era perto de um barzinho com o nome engraçado...como era mesmo...ah não vou lembrar, mais era um que todas as crianças do bairro usavam como ponto de encontro?! Conheçe?
-Seeeeeei também não lembro o nome...você morava lá também?
-Nossa só pode ser você... eu sou o Ricardo, hum, me chamavam de Bimba...não lembra MESMO?
A imagem dele me veio perfeitamente a memória... era MUITA conincidencia encontrar ele ali...
-Mentira que é você...
-aham, como você esquece do seu namoradinho de infancia assim?
Pois é, o Bimba/Rick tinha sido o meu primeiro namorado, namoradinho de infância, mas o primeiro. Acho que eu não tinha nem 10 anos e ele era bem mais velho do que eu, e sempre me protegia dos outros meninos que eu vivia provocando...depois de uns meses "juntos" eu me mudei pra um outro bairro e nunca mais nos falamos...nossa, a surpresa do dia..-Meu Deus como assim... faz muito tempo. Você também tá todo diferente.
-É, eu cresci né... mas você continua lindinha, em uma versão adulta, ou quase...
-Engraçadinho...Nossa, mas e aí, me conta como você tá? o que tá fazendo, nossa eu lembro que eu gostava tanto de você, só que não demonstrava...
-Eh, e eu era o bobo apaixonadinho por uma guria mil anos mais nova...
-Ah eh normal nessa idade.
Lembrar que o Rick já fez parte da minha vida de um jeito muito bom, fez ele subir muito no meu conceito. Conversamos como se nos conheçessemos a anos. Ele me contou um pouco da vida dele, perguntei bastante sobre como ele e a irmã eram juntos, e como foi saber que ela gostava de meninas. Para minha felicidade ele tinha uma cabeça muito boa, eles se gostavam muito e adoravam se provocar...Relembramos momentos muito engraçados, como quando juntos com alguns amigos pulamos o muro de um terreno atrás de umas frutinhas, só que é claro, lá tinha um cachorro que saiu correndo atrás dagente, subimos na arvore e ficamos todos lá até o finalzinho da tarde, só conversando, provocando o cachorro e comendo as frutinhas. Foi super engraçado, só que também levei uma bronca enorme da minha mãe. Me deu uma vontade de dar um abraço nele, e fiz. Ahhh que nostaalgia daqueles tempos.
-Hey, o que vocês dois estão fazendo? - ouvi a voz dela vindo de trás das minhas costas...
O cara tinha quase dois metros de altura, músculos salientes e uma barba que o deixava com uma cara de mau digna daqueles programas de WWE. Por um segundo eu achei que ele era um bandidão mau encarado que estava assaltando a casa dela e que eu, no auge dos meus 1,60 de altura, iria ter que enfrentar o cara e salvar o dia. Só pode ser piada né?! Iria ser uma briga tão emocionamte quanto ver o cara abrindo um saco de batatas fritas tamanho mini. É claro que não ia dar certo.
-Relaxa, vai dar tudo certo -disse pra ela com a maior demonstração de calma e coragem que pude, algo em que nem eu acreditava.
Meus pensamentos a lá missão impossivel foram interrompidos por ela chamando o cara.
-Riiiick...maninho, o que você tá fazendo aqui? Você nem avisou que ia vir. Você assustou minha amiga. -Rick? Maninho? Esse monstro? WHAT?
-Vim ajudar os pais. Eles disseram que você tava precisando de uma mãozinha com a mudança. Eles tão lá no seu quarto "arrumando" suas coisas. E ah...-ele se virou para mim- foi mal aí, não queria te assustar, prazer sou o Ricardo, Rick.
-...prazer. -Então ele era o "maninho" dela?! Foi uma espécie de alívio saber que aquele monstrinho era o irmão dela, mas ao mesmo tempo fiquei com vergonha da cena. Me vi ali em pé, quase tremendo de medo, bancando a corajosona que ia apanhar em questão de segundos. what fuck.
-Você achou que meu irmão fosse um bandido louco que ia nos assaltar né?!
-A... foi um palpite, ele todo grandão chegando de fininho, não teve como não pensar. E outra, você não tinha me falado que tinha um irmão. Muito menos um irmão de dois metros.
-Ah, ele é um chato, sempre querendo assustar meus amigos e dar em cima das minhas amigas ou namoradas... Nem gosto dele. -Ela mostrou a língua para ele.
-Haha é muito engraçado quando conheço algum dos amigos dela. Sempre dou um jeitinho de assustar eles. No caso das meninas tento ser educado, ela que fica vendo coisas...bom, desculpa aí, não era pra ter te assustado mesmo...
-Tá tranquilo. Não foi nada não. -MENTIRAAAA. Ainda sentia meu coração acelerado. Droga mew.
-Aaaah lá vem ele com a desculpinha de ser educado. Daqui a pouco você vai ver ele sendo educado com você. Ele acha que eu nasci ontem...
-Cala a boca. -Ele arremessou uma almofada do sofá. - É só isso sim.
-Sei... -Ela se virou pra mim e disse em voz baixa - aposto, que ele vai começar a ser "educado" com você assim que eu deixar vocês a sós. Falando nisso... Achei tão fofo você dizendo que ia dar tudo certo, querendo me proteger. -FOFO? Eu quase morri do coração mulher. -Merece até um beijo -Ahhh, aí sim.
-Eeeeeei vocês duas? Não dá pra vocês deixarem isso pra depois? -Ah cara, não quebra o clima.
-Não quebra o clima Rick. -Ela repetiu meus pensamentos ainda com a boca colada na minha.
Num estalo de consiência ela me soltou e se virou pro monstrinho maninho dela...
-Onde mesmo você falou que os pais estão?
-Arrumando seu quarto.
-DROGA...
Saímos do Fran´s e fomos para casa dela que era ali perto. Ela tinha uma péssima mania de esquecer uma coisa ou outra, então a pedido dela demos uma passadinha lá. Tudo estava da mesma forma que eu me lembrava, santa organização
-Como você consegue ser tão organizada e ao mesmo tempo SEMPRE esquecer as coisas.
-Sabe que eu não faço idéia. Se bem que não sou tãããão organizada assim...Provavelmente minha mãe passou aqui a tarde e deu uma organizada.
-Hum...Ela vem sempre aqui?
-As vezes. Ela e meu pai dizem que sentem falta de mim, e agora que eu vou me mudar eles gostam de dar uma passadinha aqui sempre que podem. O que ultimamente tem acontecido bastante. Quando nos encontramos eles passam horas me perguntando qualquer tipo de coisa. Coisas de pais...
-Legal, então ainda tem chance de eu conhecer eles. Vou me apresentar como a pretendente por um mes da filha deles.
-Nossa pretendente é ótimo.
-Claro, quero que eles gostem de mim, então tem que ser tudo certinho, os pais ainda tem aquela criação de pretendente, namoro, noivado e por fim o casamento.
-Nossa eles vão te amar. É capaz até de eles te pedirem pra casar comigo. Há anos vivem me apresentando possiveis pretendentes, quando contei que era lésbica eles deram uma parada com essa história, mas últimamente...Acredita que eles me apresentaram uma filha de uma amiga da amiga deles? Sabe Deus como eles acharam aquela mulher.
-Uau, a filha da amiga, da amiga deles...Nossa eles realmente querem te casar.
-Pois é.
-Mas eles aceitam tranquilos o fato de você gostar de garotas?
-Sempre fui apegada a eles, sempre tivemos um relacionamento ótimo, quando contei é claro que eles ficaram meio chocados como quase todos os pais, eles aceitavam, conviviam com o homossexualismo mas nunca imaginaram que a filha deles ia ser gay. Aí no começo eles não queriam aceitar, começamos a brigar direto, brigas que nunca tivemos antes, aí sai de casa e vim morar sozinha. Isso já faz uns 6 anos. Achei que nunca mais iamos nos falar, que eu tinha perdido eles, só que dois meses depois eles vieram conversar comigo, pediram desculpas, que eu voltasse pra casa, disseram que me amavam e que não aguentavam mais ficar longe...Foi uma choradeira. Disse que não ia voltar p casa porque já tava mais do que na hora de eu morar sozinha e aprender a me virar, mas que eles seriam SEMPRE bem vindos, que eles poderiam vir quando quisessem. No começo vinham todo dia e eu sempre ia lá nos finais de semana, mas acabaram se acostumando e passamos a nos ver só nos finais de semana mesmo. Claro que eles sempre dão uma passadinha aqui, até deixei um quarto pra eles e a chave do ap. Gosto de ter eles por perto, e fora que minha mãe sempre que vem aqui faz uma faxina e alguma comida pra mim.
-Aaah, ta explicado a organização.
-Ha-Ha. Engraçadinha. Eu sou super organizada tá. Da minha forma é claro! Eu sempre me acho na minha bagunça. Até tenho essa comunidade no meu orkut.
Achava muito charmoso a forma como algumas vezes ela falava como uma adolescente. Peguei ela pelo braço, puxei ela contra mim, dei um sorriso e quando ia me aproveitar do momento e dar um beijo nela vi um dos caras mais grandes que eu já vi na vida.
-Tem um cara na sua casa....
Esse foi o tempo em que eu fiquei conferindo o celular a cada meio segundo. Esse foi o tempo em que eu fiquei na dúvida. Esse foi o tempo que eu decidi investir nela. Esse foi o tempo em que eu decidi desistir dela. Esse foi o tempo em que eu fiquei surda e louca, escutando o toque do celular sem ninguém estar ligando. Esse foi o tempo que eu me senti uma idiota por ter passado o meu número e não ter anotado o dela. Esse foi o tempo que ela me deixou esperando.
Meu domingo estava quase acabando quando finalmente ela decidiu parar de me torturar.
-Eu quero conversar com você.
-Eh, eu também. Você não me ligou, não falou mais nada...
-Daqui 15 minutos eu passo aí pra te pegar.
-Tá.
Foi isso. Nem um tchau, nem um sinal de felicidade, de raiva, de esperança. Apenas mais 15 minutos de espera.
DROGA.
Mulheres, sempre escondendo algum segredinho. Acho que faz parte do charme. O tema "idade" ficou por um tempinho como tópico da nossa conversa e abriu um leque de assuntos que eu podia abordar. Apesar de ser péssima puxando assunto, a conversa com ela fluia com facilidade, como se eu conversasse com ela cotidianamente, como se ela fosse uma das minhas amigas com as quais eu não precisava ficar pensando em tópicos para quando acabasse o assunto.
Quando me dei conta, já eram 3 da manhã e nós estavamos quase chegando à minha casa. Pensei brevemente nisso e no quanto a noite havia sido agradável.
-"Sair com a minha professora", tá na minha lista de "o que você irá contar para os seus netos"!
-Ah, gostava dessa propaganda, lembro de quando tava na moda, qualquer coisinha mais idiota que minhas amigas queriam fazer e eu não, elas usavam um "Vamos lá, lembra, o que você vai contar para os seus netos"...
-Você tem cara de certinha mesmo.
-Eu sou. Muuuuito certinha...
-Acabei de mudar de idéia.-Não consegui desviar de um soco dela- Aí. Isso dói.
-Era para doer.
-Viu, malvada.
-...
-E com um soco de direita bem forte.
-Desculpa foi mais forte do que era pra ser. Na verdade já fiz uns meses de boxe há um tempinho atrás...
-Ah tá. E você só me fala agora? Nossa acho que meu braço vai cair.
-Own bebe, que dramática você. - Num geral, só minha mãe me chamava de assim, mas com certeza eu podia abrir uma excessão pra ela.
-Olha, olha tá roxo já. -draminha básico
-Chegamos.
-Salva pelo gongo. Agora vou entrar, me arrastar até meu quarto, se eu chegar lá, afinal acho que a dor vai tomar conta de mim e eu vo desmaiar no meio do caminho, aí vou dormir aqui fora.Meus pais vão me achar desacordada na varanda e...
-Você quer que eu te acompanhe até seu quarto, te coloque na cama e dê beijinho de boa noite pra ter certeza que meu bebe está bem? - Meu bebe? Hum, ponto pra mim. Claro que eu quero que você me leve na cama e bom, se quiser pode passar a noite aqui, sem problema algum e talz...- Tá certo, me passa seu número. Quando eu chegar em casa te ligo pra saber se você não tá desmaiada na sua varanda. -Hey, e quanto a proposta de me deixar na cama e...ok, vamos com calma. Passei meu número e me virei pra me despedir. Dei um beijo acidental e estratégico no canto da boca dela. Sempre gostei de beijo no cantinho da boca. Acho charmoso, tentador, deixa um gostinho de quero mais. Aquele, foi acidental e além de surpreendê-la um pouco, também me surpreendeu. Desci do carro e quando abri o portão conclui que EU não ia dormir se ficasse só no desejo, me virei, fui até a porta do motorista, abri e dei um beijo nela. Não pude resistir, ainda bem que eu não resisti. Ela correspondeu. Foi um beijo rápido mas intenso, daqueles que não dá nem tempo de respirar, pra que respirar?. Queria ficar ali por mais tempo, beijar ela denovo e levá-la pro meu quarto, mas ela disse que tinha que ir, eu percebi que ela também queria, mas que estava um pouco incomodada com o que aconteceu, não ia forcar nada. Entrei em casa e e vi ela ir antes mesmo de eu entrar. Não sabia o que ia acontecer daqui pra frente mas valeu a pena arriscar.